Crítica 01_Não é novidade pra quem acompanha.

Trama boa não é aquela que tem muitos atores bons, acredito que trama boa é aquela que cada personagem tem sua história, tem seu papel, tem sua participação, sem deixar um gosto de: “cadê fulano, que quase nem aparece nas cenas”? Como a própria escritora diz: “novela é para o público sonhar, fantasiar”, é isso que acontece comigo em Além do Tempo.

Abro minha primeira crítica, construtiva por sinal, elogiando ao mais belo folhetim das 18h da Rede Globo, desde que tenho aprimorado meu gosto, por um bom roteiro, uma trama bem costurada, boas interpretações, cenários lindos digo que, Elizabeth Jhin está majestosa em sua novela, cheia de mistérios e indagações para os telespectadores.

Sobre os personagens observo um quebra-cabeça que a autora faz, sendo que ela utiliza do tema reencarnação pra explicar suas personalidades e atitudes onde uma ação responde a outras ações que os personagens entre si, se percebem, se entendem e aos que não se compreendem, estão buscando essas lacunas existenciais. Alguns personagens como a Melissa (Paolla Oliveira), por exemplo, com seus porquês e ao mesmo tempo vivendo sobre algo que ela não entende, ela se realiza com as atitudes que a satisfaz, mesmo sabendo que pode não dar certo; outro personagem que não sabe o que é, mas na história está se encontrando, mesmo não sendo reencarnação de si mesmo no tempo em que a novela se passa é o Mateus (Cadu Libonati), ele desenha imagens das pessoas que viveram em outra época, isso a escritora explica que é um dom. Vários outros personagens desenvolvem-se de maneira retilínea e explicativa, e percebe-se que tudo será bem explicado, (ou não). A Lívia (Aline Moraes) é uma mocinha que exala um amor puro, diante de dilemas que lhe obriga a renunciá-lo. Contida dentro de princípios ela tem paciência, e faz tudo com sabedoria, característica marcante das mocinhas da autora.

Quero salientar no geral que as interpretações dos atores estão fiéis ao texto. Cada um, no seu núcleo, esta desenvolvendo como se estivesse brincando, com primor e amor, é o que vejo. Júlia Lemmertz, a Dorotéia, tem vivido seu personagem de uma forma alegre e espontânea; Louise Cardoso, a Gema, vai do drama de conviver com pessoas preconceituosas tanto na primeira quanto na segunda fase da novela, a uma mulher que aproveita todos os momentos pra sorrir. Tem um homem cínico, pretensioso, dissimulado e maquiavélico, que o personagem do Emílio Dantas, o Pedro, que não sofreu tantas mudanças, diria que ele tem uma alma ruim em sua origem. Enfim cada personagem desde o cômico até o até o drama tem desempenhado sua função com ligeira atenção.

Sobre o roteiro, posso dizer que está sensacional. No horário das 18h um texto sem gírias e vícios de linguagens, mostrando cultura que no caso é a produção, cultivo e distribuição de vinhos, realmente eu estou envolvido com ele. Estamos numa cultura, onde os vícios de linguagens e as gírias locais, regionais e estaduais estão tomando conta do nosso vocabulário, ela traz uma proposta muito boa, com verbetes incomuns que nos faz pensar numa língua bem falada, numa forma de se comunicar com palavras comuns algumas vezes, porém com primor.

Ao que se refere ao cenário, as paisagens, tudo que a escritora usa pra trazer como referência a sua história, eu adorei. Acho que faz jus ao que ela está passando na trama. No primeira fase percebe-se também, um cenário onde a iluminação é bem natural, não há resquício de iluminação artificial, principalmente à noite. Numa cidade conturbada, acredito que não daria pra mostrar um amor “Dom Casmurro”, perceptível ao olhar, ela usa o olhar e as possibilidades pra desenvolver um amor que se completa no outro. Além do mais, temos a produção de vinho, que traduz muito bem isso.

Portanto, toda a história de Além do Tempo está sendo desenvolvida com esmero. Percebo que, uma ação responde a outra de uma forma genial, digna de premiação. No cinema, em algumas horas com certeza seria indicada a Oscar, claro que todo o texto teria que ser muito mais perspicaz do que já tem sido. Até então há classifico com uma das melhores produções das 18h, da Rede Globo, posso ser ainda mais atrevido em dizer a melhor.

Vivaldo da Hora,

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